segunda-feira, 25 de junho de 2012

MILTON SANTOS

Quanto à Geografia... refletindo e aprendendo com Milton 
Para Milton a geografia nunca teve momento tão promissor. Ao peso das metáforas se associa o peso da desconfiança dos geógrafos na força do espaço. Essa desconfiança levou o geógrafo a adotar a primeira idéia mais próxima, entre geólogos, antropólogos, cientistas políticos, filósofos, do que assumir a geografia propriamente dita. Por isso a geografia foi invadida por metáforas. Assim nos chega uma enorme influência vinda antes dos geógrafos franceses, depois dos anglo-saxões, disseminando o poder de alguns poucos geógrafos: o deslocamento do interesse dos hegemônicos em relação aos hegemonizados se amplia. O resultado desse processo é que a geografia, em vez de se tornar universal, se torna provinciana.
Além disso, há uma institucionalização crescente da disciplina: seu prestígio é ligado a departamentos, a revistas. Isto vai criar uma enorme capacidade de reprodução sem discussão do objetivo mesmo do que se está fazendo. E isto é o que Milton denomina de 'moda'. Elaborando uma profunda reflexão sobre o movimento da geografia na América Latina que ele próprio criou, Milton teme que ele venha a não durar muito. Pois, lamentavelmente aqui, para que as coisas vinguem, alguém sempre quer criar alguma instituição, institucionalizar os processos: criar uma associação de geógrafos da América Latina, para se associar a UGI - União Geográfica Internacional e posteriormente solicitar financiamentos de preferência a alguma instituição internacional. Assim, a geografia se fragmenta cada vez mais. O movimento que Milton Santos indubitavelmente lidera na América Latina se opõe a isto: nele a geografia se globaliza, assume uma forma de expressão diferente, procura manter um estreito laço cultural e esta é também uma forma de expressão diferente.
Milton nos revela sempre a sua visão sobre a geografia, sobre o Brasil e sobre o mundo. Seu sinuoso pensar pode vislumbrar coisas que nós ainda certamente não estamos vendo. Assim tem sido a sua vida... No entanto, seu pensamento nos deixa atento para procurar compreender nosso país. Verificar se o Brasil só está impregnado da novidade (a política neoliberal) ou se efetivamente já fomos emprenhados pelo 'novo no mundo: a possibilidade de, com a técnica, construir esse "admirável mundo novo"' e a tão perseguida civilização do ócio, resgatando a plenitude do homem universal.
Milton, sua lucidez, sua obra e a história da sua vida nos permitem, ainda, construir utopias.
Um beijo. Continue a ser feliz.
Maria Adélia.
São Paulo, setembro de 1996.

 Entrevista com Milton Santos " Política  racial brasileira"

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